O termo Gótico foi criado no século XVI por Giorgio Vassari, primeiro estudioso de história da arte e tinha um sentido depreciativo pois equiparava a arte dos séculos XII e XIII, que teve seu início na França, aos povos godos, povo bárbaro que invadiu e destruiu Roma em 410, tamanha sua aversão a essa manifestação artística.
A arte Gótica surgiu na baixa Idade Média num contexto religioso, político e social denominado Renascimento do Século XII. Tanto cultural, artística e filosoficamente, apesar de herdar muito do estilo final do período Românico, que já buscava sua inspiração na arte da Antiguidade Clássica, se confronta com a austeridade e dureza da arte Românica.
Nesse momento histórico, com o surgimento de novas tecnologias e abertura ao comércio de novos produtos e rotas, os feudos perdiam sua força e começava a surgir os burgos, cidadelas onde comerciantes se estabeleciam surgindo uma nova classe social que já não era dependente dos senhores feudais e podiam construir suas próprias riquezas.
Vitrais Góticos
O colorido e a exaltação da luz nos vitrais da Basílica de Saint-Denis, Paris.
Notre-Dame
Vista externa da abside da Catedral de Notre-Dame de Paris, onde são visíveis os arcos quebrados, os contrafortes e arcobotantes típicos da arquitetura gótica.
Um importante fator filosófico que influenciou o início da produção artística e cultural da arte Gótica em Paris foi o abade Suger ser um grande estudioso da teologia de Pseudo-Dionísio, o Areopagita que teorizava que através da luz o homem se comunica com o divino e o sagrado, podendo sentir a glória de Deus e sua grandeza e constatar que somos pequenos diante da mortalidade.
A partir do Século XII, 1137 e 1144. a primeira catedral gótica foi construída na França, sob o monitoramento do abade Suger, a Catedral de Saint-Denis.
Na arquitetura, um grande avanço aconteceu nesse período. Com novas técnicas arquitetônicas como arco ogival, o contraforte, reforço de um muro para sustentar a pressão de uma abóbada ou terraço e o arcobotante, construção em forma de meio arco na parte exterior para apoiar as paredes e repartir o peso das paredes e colunas. Essas, entre outras técnicas, fizeram com que as construções pudessem aumentar muito sua altura, além de permitir aberturas de janelas e vitrais que produziam uma imensa sensação de leveza interna.
O exterior do transepto passa a ser amplamente decorado e ladeado por torres.
Muitos outros elementos como abóbodas em cruzaria, grandes torres de ambos os lados, com acabamento pontiagudo ou piramidal, passam a fazer parte do estilo gótico e favorecer a sua verticalização para expressar o espírito de uma Igreja Católica triunfante em contraponto a Igreja Católica militante do Românico.
Os vitrais, em função da “teologia da luz” pregada pelo abade Suger, tiveram seu auge na arte Gótica. As temáticas religiosas eram as mais produzidas, como as passagens bíblicas a vida de Jesus, Maria e dos santos.
A Catedral de Chartres costuma ser considerada a obra-prima entre os muitos conjuntos de vitrais.
Destacam-se também as catedrais de Notre-Dame de Paris, Bourges, Soissons, Auxerre, Sens, Soissons, Laon, Troyes, Lincoln, Reims, o da Sainte-Chapelle e Salisbury.
Mas com o enriquecimento de alguns burgueses não só a igreja consumia arte. Castelos e mansões também eram decorados com vitrais com elementos da natureza, alegorias, representações dos astros zodiacais e brasões.
Fachada Gótica
Fachada da Catedral de Tours, grande representante da arquitetura gótica
Afresco Gótico
O afresco A Fuga para o Egito é uma pintura de Giotto na Cappella degli Scrovegni em Pádua, Itália.
A escultura no período Gótico também demonstra um contraponto a dureza do estilo românico adquirindo maior leveza e graça nas formas das imagens bíblicas, com expressões realistas e delicadas, no olhar, no sorriso e na expressão corporal.
Fachadas ricamente esculpidas, grandes portais, altares decorados além de ombreiras (jambas), arquivoltas, tímpanos, nichos, pináculos, capitéis e colunas inspiradas na arquitetura da Antiguidade Clássica, assim como o naturalismo mais desenvolvido no período Gótico Tardio que apresenta o surgimento das gárgulas para passagem da água, grifos, basiliscos (serpentes mitológicas) e padrões geométricos abstratos compõem os elementos que marcam a escultura na arte Gótica.
A pintura na arte Gótica também se inicia herdando os princípios da arte Bizantina, herdeira da arte Clássica. Os pintores italianos passam a apresentar grandes nomes como Berlinghiero Berlinghieri, no século XII, Duccio di Buoninsegna da Escola Sienesa que rivalizou com Giotto, mestre da Escola Florentina.
Giotto, que futuramente foi considerado precursor da pintura Renascentista, se destacou por dar um caráter mais naturalista na pintura das figuras humanas em retratos e mais dramaticidade na pintura de cenas geralmente bíblicas. Ele foi discípulo de Cimabue, grande pintor Bizantino.
Os ícones, que são representação da mensagem cristã descrita nos Evangelhos, também conhecidos da cultura ítalo-bizantina desde o século V, ganharam grande importância na arte Gótica principalmente nos murais, nos retábulos, nas iluminuras.
Mas além do temas bíblicos, a arte Gótica passa a representar também eventos históricos, fossem militares ou civis, cenas inspiradas na poesia trovadora qie foi o movimento literário e poético medieval, dos romances de cavalaria, e dos romances da corte, além de alegorias das Virtudes e das Artes Liberais que consistia na metodologia de ensino, organizada na Idade Média.
Na pintura Gótica um grande avanço aconteceu principalmente no período Gótico Tardio. A pintura a óleo, que já era conhecida desde a Antiguidade, se desenvolveu e passou a dar mais detalhamento e nuances de cores.
Jan van Eyck desenvolve novas técnicas, como misturar óleo ao invés de ovo ao pigmento mineral. E isso além de retardar o tempo da pintura, permitindo várias camadas e transparências, dava mais brilho as cores. Outra técnica inovada por ele foi lixar e pintar a madeira de branco antes da pintura, o que dava mais brilho e profundidade nas cores.
Grandes pintores da escola flamenga são Petrus Christus, Robert Campin e Rogier van der Weyden, que também se destacaram com essas técnicas passaram a ser amplamente utilizada por todos os pintores a partir de então.
A iluminura na arte Gótica ganha novos admiradores com a possibilidade dos novos burgueses poderem adquiri-las através dos livros e manuscritos que por serem caríssimos caríssimos eram considerados símbolos de luxo e status.
Com as novas universidades cria-se também mais demanda dessa arte que sai da exclusividade dos mosteiros e passa a ser produzida nas cidades, além de aumentar seu repertorio e trazer o estilo rebuscado da arquitetura Gótica para a escrita e o desenho das iluminuras.
Nesse período cria-se um novo tipo imagem decorativa dos textos iluminados, ou seja decorados com iluminuras que são as drôleries, tendo como característica se situarem na margem do texto e serem engraçadas ou grotescas por misturar criaturas diferentes como animais e seres humanos, animais diferentes e plantas ou coisas inorgânicas. Geralmente usada para expressar humor da vida cotidiana.
Surge também as grisaille, pintura monocromática usadas em bíblias, breviários, tratados de história, música, direito e ciências, biografias, bestiários e crônicas. Esta técnica foi utilizada por muito tempo na pintura a óleo, preparando toda a pintura para a aplicação de camadas de cor numa fase posterior.
Gótico primitivo ou Proto-Gótico: a partir de c. 1130. Técnicas de construção inovadoras dando início a construção de grandes catedrais mas ainda é austera e dependente da herança românica.
Alto Gótico: a partir de c. 1200. Identidade própria com o início do naturalismo, sob influência do humanismo clássico, da laicização da sociedade que flexibiliza os dogmas religiosos. Perde a influência românica.
Gótico Pleno ou Gótico Internacional: a partir de c. 1350. Sob influência da cultura da corte o decorativismo se destaca. Com o naturalismo a representação humana exalta mais um aspecto emocional e adquiri elegância. O estilo se difunde por quase toda a Europa.
Gótico Tardio ou Baixo Gótico: a partir de c. 1450 até c. 1550. A religião passa a ter menos peso na expressão artística. Aumenta o gosto pelo decorativismo e detalhamento nas cenas de cotidiano. Através de novas escolas regionais influenciadas pelo Renascimento italiano inicia-se uma linguagem híbrida denominada maneirista.